28 setembro, 2007

Actividade ilícita

“Faltam 15 minutos para encerrar.” P. fecha o computador e dirige-se à casa de banho da biblioteca. Retoque de maquilhagem, mudança de sapatos, blazer, P. sai da casa de banho uma executiva. Chegará a casa vestida como quem veio do escritório onde é suposto trabalhar como consultora. Alguns jovens têm que esconder dos pais que fumam, bebem, tomam drogas, dormem com alguém do sexo oposto, dormem com alguém do mesmo sexo... P. esconde que escreve.

25 setembro, 2007

BL

Sabem aquele desejo de dar um grito num sítio onde não se pode sequer falar alto? Não fui eu, não tive coragem, mas um casal acabou de descer as escadas da British Library aos berros. Quando chegaram à saída iam tão satisfeitos que o segurança não conseguiu fazer mais nada a não ser rir. Por momentos, pensei que também o segurança ia desatar aos berros. Ainda tive esperança que se pegasse.

21 setembro, 2007

Special People

Talvez seja tempo de começar a ler jornais desportivos e tablóides, mas até aqui ainda não ganhei o hábito, e se calhar por isso, o conceito de um José Mourinho odiado pelos ingleses – como no retrato do P2 de hoje - é-me absolutamente estranho.
Não creio que exibir sucessos (ou até vangloriar-se) seja “pena capital” na jurisdição britânica, pelo contrário. A característica que mais me tem custado a entender na mentalidade anglo-saxónica é a falta de humildade, porque isto é extraordináriamente estrangeiro para um português.
Um português em Londres é obrigado a viver com o Mourinho – a associação Português=Mourinho ultrapassa todas as outras, do vinho do Porto ao Algarve. E é obrigado a ver-se no Mourinho.
E o único pedaço verdadeiramente feliz do espelho é a arrogância. Como se o Mourinho representasse a nossa possibilidade de, noutro país, viver esquecidos do nosso destino de humildade.

14 setembro, 2007

Almoço no café

Às 12h vêm as mulheres com filhos – nas mãos, no colo, na barriga – e vão-se.
Às 13h vêm as mulheres sem filhos – estão ainda mais carregadas – e vão-se.
Às 14h vêm os homens – um telemóvel, um jornal, um livro, qualquer coisa para não comer sozinho - e vão-se.
Às 15h até as meninas ao balcão estão ausentes.

12 setembro, 2007

149 – a leitora

Nunca tinha visto ninguém de olhos bem abertos com a expressão de quem os tem fechados. Tenho a certeza que lê, simplesmente não aquilo que está escrito.